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terça-feira, 3 de abril de 2012

cap 42 e 43 de o melhor pra mim

Domingo, dia 8 de Novembro, 12:03, carro.

Thur:

Bom, trato é trato, certo? Ela estava fazendo minha banda começar a tocar nas rádios, conquistar algumas fãs e provavelmente colocaria 200 pessoas num show e salvaria minha vida. Então não custava nada eu me enfiar numa camisa pólo, jeans normais, esconder a samba canção e usar um sapatênis.

Bom, não muito.

Eu estava meio escondido, esperando ela sair de casa. Combinamos que eu a esperaria no final da rua, e era o que eu estava fazendo. Fumava um cigarro atrás do outro, pois não me sentiria confortável naquela situação. Agiria como seu namorado, pois estava no “contrato”, mas não sei se aguentaria só fingir.

Avistei-a pelo retrovisor. Usava o vestido xadrez rosa claro, marrom e branco, um colar de pérolas branco com um lacinho na ponta e uma sapatilha perolada, roupa que eu a havia instruído a usar. Estava com uns óculos de sol branco e andava olhando para os lados, provavelmente com medo de que o pai a visse entrar em meu carro. Assim que entrou, pegou um cigarro do meu maço e acendeu.

- Além de motorista e namorado agora eu sou fornecedor de cigarro?

- Não deu pra pegar o meu em casa. - ela deu de ombros, ligando o rádio. Parecia estressada. - Vamos?

- Sim, madame. - fiz uma mesura. - Aonde exatamente nós vamos?

- Ritz.

- Beleza, comida boa e de graça. - brinquei, dando partida. Lua ficou remexendo nos meus CD’s até que encontrou um Riot! e colocou pra tocar. Ficou balançando a cabeça no ritmo, cantarolando junto.

Fui devagar, pro cheiro do cigarro sair. Percebi que ela havia tirado o piercing do nariz e o do freio da língua, e seus dentes estavam mais brancos que o normal. Ela cheirava a algum perfume caro e suas unhas estavam pintadas de branco. Porcamente, mas estavam.

- Quem pintou suas unhas? - perguntei, me segurando para não rir.

- Clara. - ela deu de ombros. - Acho que a barriga atrapalhou um pouco.

Nos olhamos, sérios. Depois caímos na risada.

Chegamos ao Ritz e ela saiu do carro antes mesmo que eu pudesse pensar em ajudá-la. Entreguei as chaves do carro para o manobrista e fiquei atrás dela, que discava o número do celular de sua mãe. Trocou algumas palavras com ela e desligou, colocando o celular dentro de uma bolsinha de mão branca. Então pegou minha mão como se fôssemos namorados e me arrastou para dentro do restaurante. Não reparou que eu havia ficado meio pasmo com aquela atitude e me arrastou para uma mesa em que três mulheres de uns 40 anos conversavam.

Lua parou em frente a mais perua delas. Ela usava um vestido longo estampado, brincos de pérola e uns óculos estilo gatinha vermelho. Era loira e tinha pelo menos quinze aplicações de botox. Mas fora isso era idêntica a Lua.

- Oi, mamãe. - ela disse, contrariada.

- Lua, você está atrasada. - ela comentou, seca. Depois colocou os olhos ferinos em cima de mim. - E você deve ser Arthur Aguiar!

- Sim, Sra. Prazer em conhecê-la! - estendi a mão. Ela me cumprimentou. Depois repeti o gesto com suas amigas.

Eu havia nascido na burguesia. Sabia muito bem como me portar com senhoras malucas que dedicavam a vida inteira aos maridos bêbados e a projetos de caridade hipócritas.

- Sem essa de senhora, pode me chamar de Adriana! - ela exclamou, chamando o garçom, que correu até a mesa e puxou duas cadeiras ao seu lado.

Sentei-me no meio de Adriana e Lua, que parecia extremamente desconfortável com tudo aquilo. Eu, no meio delas, só queria rir. Quando eu pensei que estaria fingindo ser namorado de alguém? Era uma situação cômica.

- Mas conte-me, Arthur, há quanto tempo vocês estão juntos? - uma das amigas da mãe de Lua perguntou.

Olhei para Lua, sorrindo como um anjinho. Ela fez que não discretamente com a cabeça, sorrindo amarelo para mim, mas minha língua estava formigando.

- Tudo começou no campo de golfe…

Aaah, aquele seria um ótimo almoço.


cap 43


Domingo, dia 8 de Novembro, 13:13, parque Cloverfield.

Lua:

- Você é tão babaca, mas tão babaca, que eu não sei como minha mãe caiu na sua conversa… - eu disse, e Thur riu, lambendo meu sorvete de flocos. - Desde quando eu jogo golfe?

- Desde quando você descobriu sua paixão pelo esporte! - ele comentou, e foi minha vez de rir.

Nós havíamos acabado de sair do almoço com minha mãe - que estava perdidamente apaixonada pelo Thur - e estávamos sentados embaixo da sombra de uma árvore gigante, no meu parque favorito de Rio . Thur havia comprado uma casquinha para nós dois, e estava comendo o resto da minha.

O negócio foi que Thur inventou uma história ridícula sobre como nos conhecemos - eu me machuquei jogando golfe e ele estava no campo, me levou para o ambulatório e no dia seguindo me levou para jantar e me deu rosas vermelhas -, e eu fiquei o almoço inteiro beliscando ele por debaixo da mesa, me segurando para não rir. Mas minha mãe, cega por toda a vantagem que Thur contava, achou a coisa mais fofa do universo. E eu pude sentir a inveja nas feições de suas amigas, e quanto mais suas amigas tinham inveja dela, mas ela se sentia superior.

Thur sacou muito bem minha mãe. Mais do que eu mesma, em 17 anos.

Que grande ironia do destino…

- Mas e aí, pronto para encontrar seu pai amanhã? - perguntei, e Thur fez uma careta.

- Ainda nem contei pra ele… Aliás, vou fazer isso hoje à noite. Você miou meu role, viu Lua… Meu pai vai comer meu toba! - ele suspirou.

- Quem mandou me tratar feito cocô. - dei de ombros. - Mereceu.

- É, eu sei… Aqui se faz, aqui se paga. Só queria ver quais vão ser os comentários sobre o fato de eu supostamente estar bisbilhotando Alana. - ele riu, rouco, e olhou pra mim. - Jogada de mestre em Lu?

- Lua. - corrigi.

Paramos de conversar um pouco e olhamos para o horizonte.

Estávamos bem novamente. Éramos amigos novamente.

Então porque eu tinha a sensação de que algo estava faltando?

- Acabou o assunto? - ele perguntou, me tirando dos pensamentos.

- Provavelmente. - respondi.

- Ótimo, agora eu já posso partir pro ataque. - ele disse, me abraçando pelos ombros e jogando seu peso em cima de mim, me tombando para o lado. Comecei a rir, e empurrar ele pra longe, segurando seu rosto entre as mãos.

Ele dizia coisas como “agora você vai ver quem é o idiota” e eu só conseguia rir e virar meu rosto de um lado para o outro, evitando que ele me lambesse. Depois de algum tempo de luta, desisti, soltando os braços ao longo do corpo. Thur deitou-se ao meu lado, rindo e arfando como eu.

- Idiota! - exclamei.

- Olha que eu faço de novo, eim!? - ele ameaçou, apertando meu braço.

- Desculpa, desculpa. - pedi, e ele o soltou. Depois virou-se de lado, e eu fiz o mesmo.

- Oi. - ele disse, todo cheio de grama pela roupa.

- Oi. - respondi, sorrindo.

- Posso… - ele parou, mordendo o lábio inferior. Então colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, deixando a mão na minha nuca. - Posso terminar o que começamos ontem?

- Pode. - respondi, hipnotizada pelos seus olhos castanhos.

Ele se aproximou, primeiro roçando seu nariz no meu, depois encostando seus lábios no meu.

Coloquei minhas mãos entre seu cabelo e relaxei.

O que estava acontecendo entre nós dois?

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