Quarta-feira, dia 11 de Novembro, 13:28, shopping.
Girls:
Depois de briga não encontramos mais os meninos, supondo que deveriam estar em aula. Matamos a última aula e fomos para o shopping almoçar, porque Sophia estava “louca por um Temaki”. As três só sabiam falar da briga, e como Thur fora o cara mais fofo do universo por ter me defendido daquele jeito. Eu concordava com elas, ele fora realmente maravilhoso, mas só queria esquecer daquele acontecimento. Cada vez que ele era legal comigo daquele jeito só me lembrava que nós dois éramos muito diferentes e que aquilo, no final de tudo, não nos levaria a nada.
Suspirei, enfiando o resto do meu Temaki na boca.
Finish him!
- Sim, ele foi um amor, mas Lua também agradeceu muito bem! - Rayanna comentou, gesticulando com os hashis na mão e jogando molho shoyo por toda a mesa.
- É mesmo, foi muito legal da sua parte, Lu! - Mel confirmou.
- Ele bateu em um dos melhores amigos por mim, acho que era o mínimo que eu podia fazer… - dei de ombros, coçando meu nariz e sem querer tirando o piercing. - Ai, bosta!
- Mas e agora? Você vai colocar ele pra fazer o que no seu projeto? - Sophia perguntou, acabando seu precioso Temaki.
Dei de ombros mais uma vez.
Não tinha a mínima ideia. Quero dizer, Thur não era exatamente uma mente brilhante… Não quero parecer malvada, mas era a mais pura verdade! Onde eu o colocaria no meu projeto? Como Bobo da Corte?
- Sei lá, eu dou um jeito. - respondi, desanimada.
- Lu, tá tudo bem? - Rayanna perguntou, me analisando mentalmente. - Se o cara que eu estivesse ficando desse uma surra em um dos melhores amigos por minha causa eu estaria feliz a beça, mas você só está mais grossa do que o normal!
É, minhas amigas me conheciam mais do que eu mesma.
Sim, eu não estava nem um pouco legal. E sabia muito bem por quê.
- Não sei… Algo me diz que eu vou acabar me magoando, só que a cada prova que Thur me dá de que ele não é um idiota completo eu me apaixono mais e mais. Como por exemplo hoje: Eu estava morta de ciúme porque Pérola estava com ele, e toda a escola sabe da história de Thur com Pérola, mas então ele me protegeu daquele jeito, e eu esqueci completamente porque estava brava com ele. Mas essa não sou eu! Eu sou orgulhosa, chata e implicante! Eu não deixo as coisas passarem desse jeito… Aliás, eu nunca senti ciúme da alguém a minha vida inteira! Nem quando meu pai se casou! Ciúme meninas! Eu quase morri de ciúme hoje! - deixei minha cabeça tombar na mesa e falei com a boca colada na madeira. - Eu só queria que ele me decepcionasse logo pra eu poder dar um fim nisso tudo. Eu não sou assim, essa não sou eu!
Fiquei algum tempo sem obter resposta. Pensei que nem iria e levantei a cabeça. As três me olhavam com sentimentos distintos. Sophia se identificava com a minha situação, Mel estava com cara de preocupada e Rayanna estava indecisa sobre me dar ou não algum conselho.
Mas como eu conhecia Rayanna muito bem, ela não aguentaria ficar com a boca fechada e estaria falando em 3, 2…
- Ah, Lua, não sei… - ela suspirou, colocando seus hashis de lado. - Isso tudo é muito recente! Há quanto tempo você não se interessa por alguém? Desde o primeiro ano, quando ficou a fim do Robert… E, para ser sincera, eu nunca te vi tão em crise existencial como você está com o Thur. E por te conhecer tão bem, isso só significa uma coisa: Você gosta tanto dele que tem medo de admitir até para você mesma! E você pode estar se fazendo a pergunta de todas nós nessa mesa “como eu posso gostar de um garoto em menos de uma semana e que até pouco tempo odiava tanto?”, mas acho que essa é a vida! Provando para nós que as aparências e famas enganam! Não acho que ele vai te magoar… Ele não está provando que tá curtindo ficar com você? - balancei a cabeça afirmativamente. - Então! Aproveita esse sentimento que você nunca conheceu, Lu! Mas, bom, é o que eu acho.
Ela olhou para Sophia e Mel, que concordavam com ela.
- Eu só acho que você deveria aproveitar que o cara que você está afim também está afim de você. - Sophia aconselhou. - Porque veja só minha posição: Eu gostei dele desde o primeiro ano do ensino médio, depois de quase três anos finalmente fiquei com ele e depois ele me deu um pé na bunda. Você gostaria de passar por isso?
Neguei com a cabeça.
- Concordo com tudo, mas só acho uma puta hipocrisia! - Mel finalmente abriu a boca. Viramos-nos para ela, sem entender nada. - Vocês, e eu, com certeza estão sentindo a mesma coisa que a Lu, e não colocam os conselhos que dão em prática. Isso pra mim é hipocrisia.
- É verdade… - Rayanna suspirou. - Acreditam que hoje o Pedro veio me chamar para sair e eu não aceitei?
- Acredito. Eu fiz o mesmo… - Mel também suspirou.
Ficamos quietas, fitando a mesa, perdidas nos próprios pensamentos, até que Sophia quebrou o silêncio.
- Vamos fazer um pacto?
- Pacto? - nós três dissemos em uníssono.
- Sim! Vamos tentar ignorar nossos medos e nossos orgulhos e deixar o destino nos guiar. Sempre que ouvirmos nossas vozes interiores, vamos tentar ignorá-las! - ela exclamou, animadinha.
Entreolhamos-nos.
Bom, é… Aquele pacto era praticável. Pelo menos em teoria.
- Por mim, de boa… Estava querendo mesmo um empurrãozinho pra parar de ser bixa e aceitar sair com o Pedro. - Rayanna disse, e nós rimos.
- Ok, fechou. O Chay que me aguarde… - Mel concordou.
Então as três me olharam.
O quê? Eu tinha que fechar o pacto? Sempre eu, sempre eu…
Suspirei. Por que não?
- Claro, por que não? - falei em voz alta, forçando um sorriso. - Se é pra viver, que seja direito.
O pacto estava feito.
Sorri, meio comovida, meio envergonhada. Mas meu celular vibrou bem na hora, me tirando daquele constrangimento. “Nova Mensagem de Thur”. Mostrei para elas, que gargalharam. Abri a mensagem, que só continha “pode me encontrar no Cloverfield em uma hora?”. Mostrei para elas, que me encorajaram com a cabeça.
Bom, pacto era pacto, certo?
Respondi com um “sim”, usando meu mais novo modo de viver: “Seja o que Deus quiser!”
cap 58
Quarta-feira, dia 11 de Novembro, 14:32, parque Cloverfield.
Thur:
Eu estava me sentindo um babaca. Na verdade, eu ficava repetindo várias vezes na minha cabeça “você é um babaca, você é um babaca, você é um babaca”. E, bom, se você pudesse me ver, parado em pé com um rosa na mão no meio de um parque, você também pensaria “nossa, olha aquele babaca parado ali com uma planta na mão”.
Mas, bom, eu tinha que agradecê-la de algum jeito. Só tinha a ligeira impressão de que ela não gostava de flores…
Cansei de esperar em pé e me sentei nas raízes da árvore onde havíamos ficado no domingo. Coloquei a flor no chão e apoiei-me no tronco, tirando meus fones de ouvido.
Olhei para frente e a avistei através dos meus óculos de sol. Mesmo de uniforme, mesmo com o cabelo preso, mesmo com os olhos rebocados de lápis, ela estava linda. Ela sempre fora linda, só eu não havia percebido.
- Desculpe, o taxista demorou três horas pra trocar meu dinheiro… - ela chegou se desculpando. Levantei-me, antes mesmo que ela pudesse me cumprimentar, e a puxei pela cintura, beijando-a.
Ela cheirava limão.
Por que estava sempre cheirando tão bem?
Beijamo-nos por vários minutos, como se o mundo em volta não existisse. E, na verdade, só paramos porque ouvimos comentários não muito agradáveis, se não teríamos continuado. Abri os olhos devagar, encontrando os dela fechados.
- Obrigado por hoje. - murmurei em seu ouvido.
- Eu que deveria agradecer. - ela sorriu, com os olhos fechados. - Não precisava ter me defendido.
- Eu sei que não. Só queria te provar que podia.
- Você pode ter e provar tudo, incrível, Arthur Aguiar. - ela encostou sua cabeça em meu peito.
- Então por que eu tenho a impressão de que você ainda não é minha? - perguntei, e ela riu.
- Porque eu não sou de ninguém. Sou só minha.
- Então teremos que trabalhar nisso. - disse, nos separando para poder olhar em seus olhos, que acabavam de se abrir. - Pra você. - agachei-me e entreguei a rosa para ela, que sorriu, mostrando seu piercing no freio da língua.
Tinha certeza que todos os bad guys da escola, que ficavam pelos cantos escrevendo poemas, batiam uma pensando em Lua à noite.
Certeza!
- Valeu, Thur. Vou guardar com carinho.
- Bom mesmo. - respondi, apontando para a árvore. - O que acha de ficarmos por aqui hoje? Como no domingo?
- Eu adoraria. - ela me deu um beijo no rosto, sentando-se nas raízes da árvore. Sentei-me atrás dela, com uma perna de cada lado, e ela se apoiou em mim, me olhando de ponta-cabeça.
Beijei sua testa e ela beijou meu queixo.
- Thur, posso te fazer uma pergunta? - ela encostou sua cabeça e meu peito, observando um cachorro que corria atrás do próprio rabo.
- Pode.
- O que nós somos?
Apoiei meu queixo em sua cabeça, olhando para o céu.
Aquela era uma ótima pergunta.
- Posso te fazer uma pergunta antes de responder?
- Pode.
- Você tá curtindo ficar comigo?
Ela jogou a cabeça para trás, me olhando.
- Sim. - admitiu, voltando a cabeça para frente.
- Isso responde sua pergunta. Somos o que quisermos ser. - concluí, beijando sua nuca.
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