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quarta-feira, 9 de maio de 2012

ultimos capitulos de o melhor pra mim

cap 102


Capítulo 22 - O jogo virou, a casa caiu.
Segunda-feira, dia 16 de Novembro, 8:16, auditório do Elite Way.
Guys:
- Nossa, ficou do caralho! - exclamei, realmente surpreso com a mudança do auditório. Ele geralmente era marrom e tedioso, mas, especialmente para o projeto cultural de Lua, que eu ainda não sabia direito sobre o que se tratava, ele estava parecendo uma balada. Uma daquelas bem caras, que estrelas do rock e prostitutas de luxo frequentavam. - O que vocês fizeram com as cadeiras? Elas não são parafusadas no chão?
- Ah, isso foi o de menos. O mais difícil foi encontrar algum lugar pra escondê-las. - Pedro deu de ombros. - A diretora ficou puta e disse que se as cadeiras não estiverem de volta aqui amanhã de manhã ela nos expulsa.
- O que não é muito surpreendente. - Chay suspirou. - Acho que tenho uma coleção de cartinhas avisando sobre meu novo estado de “observação permanente”. Eu sou praticamente um Big Brother ambulante nesse colégio. Se eu peidar vou ser expulso.
- E do que se trata esse projeto cultural? - perguntei, curioso. - Até agora eu não sei o que eu vou fazer aqui. Isso não é uma orgia organizada, né? Porque eu esqueci minha cueca da sorte.
- Cara, que nojo. - Pedro disse.
- Eu não diria orgia organizada, muito menos projeto cultural. Eu diria… Festa de inauguração. - Micael comentou. - A Sophia estava me explicando direito. A Lua pensa nisso desde que entrou no colégio. Ela percebeu que aqui na Elite Way eles não prezam muito a música em si, cantada, tocada ou dançada, e resolveu criar todo um complexo cultural, com aulas de dança, instrumento e um coral. Hoje ela vai anunciar pro resto do colégio as novas aulas extracurriculares que poderemos fazer a partir do ano que vem…
- O que é uma bosta, já que nós nos formamos esse ano e seria muito foda ter aulas de canto ao invés de aulas de história da arte. - Pedro fez uma careta.
Olhei para Lua, que conversava com a diretora do outro lado do auditório. Ela ainda estava com o curativo na cabeça, o que a deixava com um ar de indefesa, totalmente o oposto ao ar de garota radical que sua roupa queria passar: regata preta, calça jeans preta e Vans slip on quadriculado preto e vermelho. Seu cabelo estava preso numa trança que ia até mais ou menos a metade das costas, e ela estava linda.
Todos os alunos do Elite Way foram convidados - ou intimados - a comparecer, e alguns vencedores já entravam no salão, sonolentos e maravilhados com a mudança.
Eu podia jurar ter ouvido alguns alunos se perguntarem se estavam no céu.
As luzes estavam baixas, as janelas cobertas por lycra preta e alguns globos estavam pendurados no teto. Uma aparelhagem de som estava meio escondida atrás do palco e eu tinha quase certeza que um cara que circulava de um lado para o outro de Ray Ban new wave era um DJ conhecido.
Ao longe observei a diretora balançar a cabeça para Lua, entusiasmada, e depois lançar seu olhar felino sobre mim. Atravessou o salão em minha direção, com um sorrisinho demoníaco no rosto.
- Aguiar, já temos uma ocupação pra você! - ela exclamou.
- Hã?
- Esqueceu-se do nosso acordo? Você vai ter que trabalhar hoje! - ela passou a língua pelo lábio inferior, me fazendo estremecer. - Vai ser o técnico do som.
Bom, pelo menos aquilo era algo que eu sabia fazer. E era bem melhor do que ficar do lado de fora usando uma roupa de cachorro-quente.
- Ah, beleza. - dei de ombros. - Trato é trato.
- Lua precisa de você lá atrás às 9 horas. Enquanto isso pode ficar por aqui com o resto dos alunos. - ela virou o rostinho de boneca e saiu pelas portas do fundo.
Virei-me e dei de cara com Lua, que me olhava de cima do palco com um sorrisinho débil no rosto. “Oi” disse, por mímica labial.
“Oi” ela respondeu.
Acordamos naquele dia com seu despertador e sua mãe gritando do andar de baixo ao mesmo tempo. Saí correndo de seu quarto, sem nem poder dar-lhe um beijo, e não pude ficar perto dela pelo resto da manhã, pois sua mãe insistiu em nos trazer de carro para o Rio. Assim que chegamos fomos abordados por suas amigas e pelos meninos, então nossa proximidade do dia anterior havia sumido.
Não conseguia parar de pensar na nossa noite. Dormimos abraçados, na maior inocência. Consegui finalmente não me sentir puto por ela estar sem memória. Porque com ou sem, Lua ainda era a mesma. A minha Lua.
Estranho foi que na noite anterior eu senti que ela me conhecia, sabia do que eu gostava e do que eu não gostava. Provavelmente seu cérebro estava respondendo a impulsos conhecidos, e não a lembranças, mas que foi esquisito foi. Eu ainda estava meio intrigado com algumas coisas que ela dizia, como se lembrasse muito bem de tudo que nós havíamos passado.
Paranóia. Provavelmente era só paranóia.
- Arthur! - Micael gritou atrás de mim, e eu virei o rosto em sua direção. Ele apontou com sua própria cabeça para Michel, Fábio e Kátia, que entravam no salão. Michel parecia entediado, com as mãos na bunda de Kátia, e Fábio usava um óculos de sol e parecia se esconder das pessoas.
Com tudo que havia acontecido esquecera-se de perguntar o que havia acontecido com Fábio,Kátia,Fábio e Pérola. E esquecera-se de agradecer Carlos. Era a oportunidade perfeita para saciar minha curiosidade e mostrar minha gratidão.
Agradeci Micael com a cabeça e caminhei até eles.
- Fábio! Como vai você? - perguntei, sorrindo. Ele me olhou por cima dos óculos, surpreso. Michel soltou Kátia, que olhou para o chão, envergonhada. - Sua pele está brilhosa… Acho que uma noite em cana fez muito bem a você!
- Por que você não enfia… - ele ia dizendo, quando Michel colocou uma mão em seu ombro, como um sinal de aviso.
- Arthur, vaza daqui. Não queremos mais problemas, não é, Fábio? - ele falou entre os dentes. Michel balançou a cabeça em afirmação, contrariado.
Do jeito que eu conhecia os pais de Fábio, ele estava muito ferrado. Michel não ficava muito atrás.
- Estão ouvindo isso? - perguntei, colocando a mão no ouvido. Michel franziu a testa, Fábio não esboçou nenhuma reação e Kátia levantou o rosto. - É o som da vitória. - sorri.
- Filho da puta. - Fábio murmurou antes de dar as costas a mim e sair pelo portão principal. Michel e Kátia foram atrás.
Ah… O doce som da vitória.
cap 103
Segunda-feira, dia 16 de Novembro, 8:36 , auditório do Elite Way.
Girls:
- Lua, antes que você fique sabendo da boca de alguém, precisamos te contar uma coisa. - Sophia foi logo dizendo, quando eu finalmente estava livre de todas as minhas obrigações como organizadora da festa.
Micael vinha de mãos dadas com ela, e logo atrás Chay e Pedro conversavam, ignorando totalmente nossa conversa.
- Manda ver. - sorri, interpretando o papel de garota com amnésia. Contaria a elas mais tarde. Na verdade pensara num plano excelente vindo ao Rio: Depois da festa fingiria me lembrar de tudo. Era um ótimo plano, e não magoaria ninguém.
- Sabe quem é Pérola?
“Aquela vagabunda filha da puta?”
- Sei.
- Então, nós meio que não contamos que…
- Lua, temos um problema aqui! - ouvi o DJ gritar atrás de mim.
- Sophia, espera um segundo, eu já volto! - fiz sinal para que ela esperasse e corri até ele.
Eu sabia o que ela ia me contar. Toda a história de Thur ter-me “traído”, e logo depois ter se ferrado legal. E, pra ser sincera, foi meio que um alívio ser chamada pelo DJ. Não estava nem um pouco afim de ouvir aquela história novamente.
No final acabou que o DJ não estava achando seus CD’s, que estavam embaixo da pick up, e, quando eu me virei para procurar por Sophia, a diretora fez o sinal para que eu começasse meu discurso. Nem havia percebido o salão lotar, mas quando me virei para frente, todos os alunos, desde o primeiro ano do colégio até o último ano do a-level, estavam lá.
Discursar e convencer as pessoas nunca fora um problema, e não seria ali que começaria a ser.
- Bom dia, alunos do Elite Way. - falei firme ao microfone, recebendo um “bom dia” fraco de algumas pessoas e alguns “vai se foder, punk do satã” de outros. Observei Arthur murmurar um “porra” e sair correndo pelo salão até a mesa de som. Atrasado. Sempre atrasado. - Vocês não sabem, mas estão aqui hoje para a inauguração do nosso complexo cultural. - mandei de uma vez só, e algumas pessoas pareceram acordar, mas a grande maioria não se importou. - A partir do ano que vem todos os alunos do colégio terão direito a aulas de dança, instrumentais e poderão se inscrever no novo coral do colégio.
Continuei o discurso sobre como aquilo melhoraria o conceito do colégio e todas essas coisas chatas. Os alunos - os que ainda estariam no colégio no ano seguinte - ficaram animados com a ideia, e os formandos não se importaram muito de não terem a chance de usufruir dos novos programas, afinal de contas, encontrariam coisas muito melhores na faculdade, como orgias e cocaína.
Assim que acabei, a diretora pegou o microfone - que fez um chiado épico e eu pude ver Thur soltar uma risadinha maligna - e avisou aos alunos que aqueles que queriam ir embora poderiam ir, mas aqueles que quisessem ficar poderiam curtir a inauguração, com pista de dança - ideia de Sophia - e comida de graça - ideia de Rayanna. Os olhos dos formandos, com suas fiéis garrafas de Absolut Vodca nas mochilas, brilharam. Onde havia refrigerante quente dando sopa havia a possibilidade de batizarem as bebidas e aquilo significava mais garotas do último ano do colégio bêbadas e fáceis e mais garotos do primeiro ano do a-level mijando na caixa d’água.
Desci do palco, louca para ir aos fundos fumar um cigarro - coisa que sempre fazia depois de uma exposição daquelas -, mas fui interrompida por Arthur, que me puxou pelo braço.
- Aonde vai com tanta pressa? - perguntou.
- Ah, você sabe, circular… - respondi, dando de ombros.
- Está fugindo de mim? - perguntou, com uma risadinha presa nos lábios.
- Não, claro que não! - “eu só quero fumar uma porra de um cigarro!” pensei em dizer, mas fiquei com dó, principalmente porque ele também parecia desesperado por um.
- Eu queria conversar com você, mas eu tenho que fazer uma coisa antes. - ele disse, olhando para Carlos, que conversava com algumas garotas. - Me espera lá fora?
- Tudo bem. - consegui sorrir, mesmo depois de ser beijada na boca por ele, que logo em seguida saiu correndo em direção a Carlos.
Deixa eu te contar uma coisa: Ser beijada por Arthur Aguiar era sempre diferente, mesmo que eu meio que já estivesse acostumada, e toda vez que ele me beijava eu sentia o mundo ao redor sumir; afinal de contas, eram os lábios de Arthur Aguiar. Eu podia sentir o ódio e a inveja das garotas em volta.
Mas eles eram só meus. Só da punk nerd do satã. HA HA HA, onde está seu Deus agora?
Procurei minhas amigas com os olhos, mas nenhuma delas estava por perto, então escapei furtivamente pelos fundos e fumei meu tão esperado cigarro. Enquanto esperava Arthur, liguei para meu pai, avisando que já estava de volta. Ele exigiu que eu fosse direto e reto para casa depois da escola, porque queria me dar um beijo e ver o tamanho do meu machucado. Desligou dizendo algo como “aquela irresponsável da sua mãe”, mas eu não pude ouvir o resto, pois fechei o flip o celular ao avistar Pérola de longe, entre as árvores, fumando um beck com Fábio,Kátia e Michel.
Senti vontade de chamar a diretora, mas deixei quieto.
Nada como o perdão. Ou a preguiça.
cap 105
Segunda-feira, dia 16 de Novembro, 9:02 , auditório do Elite Way.
Guys:
- Carlos! Hey, Carlos! - gritei pelo salão, onde algumas pessoas dançavam. Apesar de ser nove horas da manhã o salão estava escuro e sombrio, a lycra preta nas janelas dando a atmosfera de que eram meia-noite pra mais.
As pessoas dançavam, o que era bem esquisito. Quero dizer, eram nove horas da manhã e eles estavam na escola, sob supervisão cuidadosa dos olhos de águia da diretora.
Carlos virou-se para me encarar.
- E aí, cara! - exclamei, dando dois tapinhas em seu ombro.
- E aí, Thur, beleza?
- Beleza, graças a você. - o empurrei de leve. - Queria te agradecer por sexta. Foi muito legal da sua parte.
- Não foi nada. Sempre gostei mais de você do que do Fábio. - ele deu de ombros, me fazendo rir. - Mas é sério. Eu te devia uma.
- Devia? Por quê? - perguntei, curioso. Nós éramos amigos, claro, mas não me lembrava de qualquer coisa que havia feito por ele. Talvez ele me devesse três Reias no pôquer, mas não era desculpa para me salvar de uma coma. Era?
- Desde que você começou a ficar com a Lua eu percebi o quão patético nós éramos. - ele suspirou.
- Ah, patético eu ainda sou. - brinquei, e foi a vez dele de rir.
- Não, falando sério, sua atitude me ajudou. Eu finalmente abri os olhos. - ele apontou com a cabeça para uma japonesa que usava coturnos, luvas coloridas e o cabelo rosa. - Tá vendo aquela japinha ali? Sou afim dela desde o primário, mas sempre me afastei por coisas retardadas, como status que, Bom, a gente tá junto agora. - ele sorriu, constrangido.
- Eu fico feliz por você. - dei uma olhada na japa, que dançava com algumas amigas. - Ela é bem gata. - ele me deu um soco no ombro.
- Fiquei sabendo da Lua. Perder a memória é foda, eim?
- Nem me fale. Estou tendo que amansar a fera tudo de novo. - virei os olhos. - Mas como ficou sabendo?
- Ah, é o novo assunto mais comentado no colégio. Antes era a prisão de Michel e Fábio a sua surra. Mas é claro que nenhum desses assuntos bate os comentários sobre você e Lua estarem juntos.
- Foda… - suspirei. - Bom, vou lá ser ignorado e humilhado novamente. A gente se fala. Valeu mais uma vez.
- Não foi nada. Só cuida bem dela, é uma garota especial.
“Eu sei” foi o que eu pensei, antes de virar as costas, dando de cara com Sophia e Micael. Sophia estava frenética, batendo com os pés no chão e enrolando uma mecha de cabelo no dedo indicador. Ela mascava chiclete e Micael fazia uma careta a cada mastigada.
Micael e seu medo de chicletes.
Chicletenofobia.
- Thur, Lua ainda não sabe da Pérola! Nós não contamos! Não era melhor contar? Sei lá, vai que ela quer tirar alguma satisfação…
- Nossa, Sophia, se acalma. - olhei para Micael. - O que você deu pra ela beber?
- Nada. - ele deu de ombros. - Ela tá assim desde que acordou.
- Nós vamos ficar aqui batendo papo ou contar logo pra ela? - ela virou os olhos.
- Porque você quer contar isso a ela? - perguntei. - Não é melhor, sei lá, deixar ela se lembrar sozinha? - “ou esquecer pra sempre?”. - Não, eu… Eu tô sentindo que alguma coisa ruim vai acontecer hoje, relacionado à Pérola. Nós precisamos contar. - ela olhou bem no fundo dos meus olhos. - Agora. - É, vamos lá, antes que ela apanhe sem saber por quê. - concordei, mais por medo dela do que por convicção. - Ela está lá fora. - completei, e nós três caminhamos até a porta dos fundos. Chay, Pedro, Mel e Rayanna nos viram no meio do caminho e se juntaram a nós. Chay “usava” um cigarro na orelha, e aquilo me fez lembrar que eu precisava muito de um cigarro, mas não iria cair em tentação.
Não iria cair em tentação.
Não iria…
- …você é uma vagabunda. Ainda não entendeu que ele não quer nada com você? - ouvi a voz de Lua abafada atrás da porta. – Desiste, Pérola, ele pode não ser totalmente meu, mas ele nunca vai ser seu também.
- Você é muito ingênua mesmo. Ainda não percebeu que ele só quer te usar? - foi a vez de Pérola ser ouvida. - Ou você acha que ele nunca disse que me amava?
Olhei para Sophia, boquiaberto. Mas o que…
Abri a porta de sopetão e encontrei as duas com o rosto muito perto. Lua segurava um cigarro entre os dedos.
Então eu finalmente entendi porque Lua parecia conhecer tanto sobre mim, mesmo “sem lembrar”.
E, cara, não é por nada não, mas eu fiquei puto. Muito puto.
Ela percebeu nossa presença ali e soltou o cigarro no chão. Olhou-me espantada e começou a gaguejar coisas como “ela me contou sobre vocês dois, ela estava me provocando!”, e Pérola olhava para ela surpresa e sem entender nada, e só aquilo me deu a brecha para não cair mais nas suas histórias.
Dei dois passos em sua direção e me espantei com a frieza de minha voz:
- Desde quando você tem sua memória de volta, Lua?
cap 104
Capítulo 23 - “Don’t sell your heart, don’t say we’re not meant to be!”

Segunda-feira, dia 16 de Novembro, 12:13, meu quarto.
Lua:
- Lua, abre a porta. - meu pai batia de levinho na porta do quarto e pedia desesperado. Pelo menos era o que seu tom de voz baixo e trêmulo indicava. Com certeza ele estava pensando que eu iria me matar. Bom, se ele estava pensando mesmo que eu me mataria por causa de um garoto, ele realmente não me conhecia e não merecia conversar comigo.
- Pai, vai embora. - pedi, pela décima sétima vez. - Eu não quero falar com ninguém.
- Nós só queremos conversar com você, querida! - Clara tentou. Sua voz estava baixa, como se ela não quisesse fazer força, e eu entendia por quê: Tinha certeza que se ela fizesse força, até mesmo para pensar, meu irmãozinho nasceria mais cedo. Com aquela barriga imensa de 9 meses eu não duvidava de nada.
- Vão embora. Eu quero ficar sozinha.
Os dois, já cansados de tentar entrar no quarto, arrastaram-se escada abaixo - no caso de Clara ela rolou mesmo - e finalmente eu tinha paz. Meu celular estava desligado, meu telefone estava fora do gancho e minha porta muito bem trancada. Eu estava a salvo.
Mas por quanto tempo eu poderia ficar no meu quarto?
Algum dia eu tinha que sair, me alimentar, ir pro colégio… Mas eu poderia viver algum tempo com duas latinhas de Pringles e uma garrafa de Coca-Cola quente. Não podia?
Enfiei-me debaixo das cobertas, congelando de frio com o meu pijama de calor - o de inverno estava lavando. Era um plano perfeito: Ficar pra sempre no meu quarto.
Estava me sentindo idiota, patética, traidora, imbecil, babaca, infantil… Estava me sentindo um cocô. Não conseguia me lembrar dos olhos castanhos de Thur, cheios de desgosto, que sentia vontade de chorar.
A coisa estava bem feia. Eu NUNCA tinha vontade de chorar. Porra, eu não chorei nem quando fui atropelada!
Enfiei a cabeça no travesseiro, dando socos mudos na cama. Será que algum dia ele iria me perdoar?
Flashback on.
- Desde quando você tem sua memória de volta, Lua?
- Eu… Eu… - gaguejei. Todos me olhavam, curiosos, menos Thur. Ele não estava curioso. Estava puto. Como seus olhos entreabertos e suas pequenas veias que saltaram em seu pescoço denunciavam. Suspirei. Provavelmente me arrependeria por não mentir mais uma vez, mas eu não conseguiria. Mais dia menos dia eu teria de contar a ele e se ficasse adiando aquilo os estragos seriam maiores. Ele merecia saber a verdade. A brincadeira havia acabado. Fora bom brincar por… Um dia? - Ontem, no quarto, quando você me acordou.
Ele abaixou os olhos, soltando uma risadinha forçada. Parecia prestes a chorar, mas, ao invés disso, ele tirou um maço de Malboro Vermelho do bolso e acendeu um cigarro.
- E isso nos mostra - comentou, tragando fundo e depois apontando com o cigarro para mim. - o quão hipócrita você é. - minha língua parecia estar enrolada no céu da boca, anestesiada. Minhas pernas tremiam. - Não consigo decidir qual das duas é pior. - ele olhou para mim e depois para Pérola. - Acho que deu empate técnico.
- Thur, eu… - tentei dizer, mas ele me olhou com tamanha dureza que eu não pude terminar a frase. O que eu poderia dizer? Absolutamente nada. Ele estava certo. Eu era uma hipócrita.
- Eu cansei de você e dos seus joguinhos. - ele disse, frio. - Tenha uma boa vida, Lua. - deu as costas para mim e sumiu ao virar a esquina do auditório. No mesmo instante Micael, Pedro e Chay foram atrás dele, sem nem olharem para mim. Pérola riu, sarcástica, jogou os cabelos l para trás e foi ao encontro dos amigos, me deixando sozinha com Sophia, Mel e Rayanna, que me olhavam com uma mistura de piedade e raiva.
Até elas me odiavam! Ah, meu Deus. Eu era a pior pessoa do mundo!
- Meninas, eu… - suspirei. - Eu não sei o que dizer.
- Tenho certeza que não. - Mel comentou.
- Lua, eu sei que você às vezes é fria e calculista, mas dessa vez você passou um pouco dos limites. - Rayanna aconselhou.
- Me desculpem. - abaixei a cabeça.
- Não é a nós que você tem de pedir desculpas. - Sophia murmurou.
Então elas entraram no ginásio, me abandonando na sarjeta.
Flashback off.
Meu Deus, o que eu tinha feito? Como eu pude brincar com uma coisa tão séria? Como eu poderia me desculpar por uma coisa daquelas? Eu estava totalmente perdida.



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