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quinta-feira, 26 de abril de 2012

cap 68,69 e 70 de o melhor pra mim

Quinta-feira, dia 12 de Novembro, 13:45, meu quarto.
Lua:
- Maggie, Maggie… Como eu queria ser uma cadelinha saltitante como você agora… - comentei, acariciando as orelhas da minha cachorrinha. Ela encostou a cabeça em minha barriga e me olhou com seus olhos verdes. Lambeu a ponta dos meus dedos e abanou o rabinho. - Eu sei, querida, mas não estou com ânimo para passear agora…
Ela enterrou o fucinho no cobertor e suspirou.
Deitei a cabeça no travesseiro e encarei o teto. Clara estava na sala assistindo TV e meu pai ainda não estava em casa. Estava completamente sozinha com meus pensamentos.
A cena de mais cedo não me saía da cabeça. Arthur puxando Pérola para mais perto. O beijo… Toda vez que pensava naquilo sentia vontade de vomitar. Eu sabia que os dois eram amigos desde sempre, e sabia de seus pequenos casos, mas nunca, nem por um momento, pensei que ele trairia minha confiança. Não éramos namorados, e não havíamos prometido monogamia, mas acho que estava subentendido, não? Afinal, quem ele pensava que eu era? Uma qualquer que não se importaria em ver o cara que estava ficando agarrando outra nos arbustos? Porque se essa era a imagem que eu passava, tinha alguma coisa errada. Muito errada.
Ouvi o telefone tocar, mas ignorei. Clara atendeu lá embaixo e eu continuei bolando teorias de o porquê Arthur estar agarrando Pérola, até que Clara gritou do andar de baixo:
- Lua! Telefone! - por um momento achei que fosse Arthur, e meu coração parou. - É sua mãe!
Ah… Que bosta…
Peguei o telefone na base e gritei para Clara desligar. Assim que ouvi o clique na linha, murmurei, desanimada:
- Oi, mãe.
- Querida, você não imagina o quão lindo é seu vestido para o baile! - minha mãe piou do outro lado. Virei os olhos. “Tudo bem comigo, mamãe, obrigada por perguntar…” - Você está lembrada que é esse sábado, certo? Presumo que Arthur tenha um smoking… - ela tagarelava, mas eu havia parado na parte em que o baile era sábado.
O baile era sábado. Como eu conseguiria encarar Arthur? Dançar com Arthur!
Ai, meu Deus…
Ouvi minha mãe delirar por alguns minutos, só grunhindo como resposta. Assim que ela terminou de despejar toda sua futilidade em cima de mim, avisou que precisava ir buscar meu meio-irmão na natação. Mas antes me deu uma ótima notícia: Eu já poderia escolher um carro.
Bom, pelo menos uma notícia boa para variar…
- Beleza, mãe, vou escolher e te mando por e-mail. - tentei parecer animada, mas saiu mais como um muxoxo.
- Ótimo, querida! Sábado de manhã mandarei o motorista para buscá-los. Um beijo para você e mande um beijo para Arthur!
- Pode deixar. - suspirei, desligando o telefone e o recolocando na base.
Comecei a contar na cabeça as vezes que precisaria encontrar Arthur antes do ano acabar. Ainda precisaria encará-lo na escola no dia seguinte, sexta no show, sábado no baile e segunda-feira no projeto - que aliás, precisava decidir onde o colocaria no maldito projeto. Talvez colocasse ele numa fantasia de cachorro-quente e estava tudo resolvido. Depois desses quatro dias, eu poderia esquecer que Arthur existira na minha vida e seguir em frente. No final do ano iria para a faculdade e esqueceria de tudo.
Deus, por que doía tanto pensar nisso?
Olhei para o celular em cima da mesa. Mel e Rayanna provavelmente estavam se arrumando para o encontro duplo, e Sophia com certeza estaria se agarrando com Micael. Pra quem poderia ligar? Ninguém. Absolutamente ninguém.
Vida de merda…

cap 69

Quinta-feira, dia 12 de Novembro, 14:07, Elite Way.
Thur:
- E foi isso que aconteceu. - terminei a narrativa, observando os olhos castanhos de Carla diminuírem. Depois de muito pensar em casa, resolvi ir buscá-la na escola, pois ela sempre fora minha voz da razão, e era bom ouvir o ponto de vista de uma mulher para variar. Estava meio alto, e ela percebeu, não me deixando dirigir e me fazendo parar o carro em frente à escola para conversar. - O que você acha que é? Vingança ou ela gosta mesmo do cara?
- Arthur, tá na cara que ela te viu e ficou puta. Aliás, se eu fosse ela nunca mais olharia na sua cara… - Carla comentou sombria. - Ou você acha que é legal ser feito de idiota?
- Pô, Carla, dá um desconto, a menina estava quase chorando! E ela é minha amiga desde sempre, sempre me apoiou, sempre esteve ao meu lado… Também não achei justo com ela… - expliquei, e Carla riu amarga.
- Você acha mesmo que ela só queria que você cumprisse uma promessa idiota? - perguntou. - Ela queria mesmo era foder com a sua relação. Por que você acha que ela pediu pra conversar com você no exato momento E lugar em que você havia combinado de se encontrar com Lua? Desculpe-me, Arthur, mas você foi muito idiota. Pérola pode ter ficado ao seu lado como acompanhante, mas nunca mexeu um dedo pra te ajudar, em nada. É a Lua que está realizando seu sonho e é ela que vai impedir o papai de te mandar pra um internato. E eu gostava tanto dela… - ela murmurou, sentida.
- Você nem conhecia ela! - exclamei incrédulo. Depois abaixei a voz, percebendo alguns olhares em cima de nós dois. – Porra, Carla, você poderia ter me animado um pouquinho pelo menos…
- Porra, Arthur! Mas você também poderia ter sido menos burro! Quem promete a uma garota apaixonada um beijo de despedida se “um dia se apaixonasse por outra”? - ela perguntou, visivelmente irritada, apoiando a bochecha na mão. Olhou triste para fora do carro, observando aquele garoto intercambista, Victor, conversar com duas meninas. - Além do mais, não estou no ânimo de te animar.
Bom, pelo menos eu não era o único com o coração partido.
- Ele pisou na bola também? - perguntei, curioso.
- Sim. Feio. Vocês não conseguem não ser idiotas?
- Não… - respondi, olhando para frente. - O que ele fez?
- O que ele não fez. Não me chamou para ir ao baile.
- Ele chamou outra menina?
- Não.
- Então ele ainda pode te chamar.
- Os ingressos acabaram. - ela disse, frustrada. Depois virou o rosto para mim. - Mas, de qualquer jeito, não estamos aqui para falar de mim, e sim de você. O que pretende fazer agora?
- Não sei. Pedir desculpas? - perguntei, indeciso.
- Sim, se você espera perdê-la, é uma ótima coisa a se fazer.
- Então o que eu devo fazer?
- Deve mostrar pra ela que está arrependido, de verdade. Além de explicar o que realmente aconteceu. Sério, Arthur, use sua criatividade. Eu sei que você consegue. - ela ironizou, dando um peteleco no meu nariz. - Você está em condições de ir para a casa?
- Até parece que você não me conhece. Eu dirijo melhor bêbado! - exclamei, fazendo-a rir.
- É, tá legal… Só não vai se matar, ok? Agradeço a carona, mas vou para a casa da Sarah fazer trabalho. - ela se inclinou para poder beijar minha bochecha. - Se cuida, Arthur.
- Você também, baixinha. - brinquei, e ela saiu do carro, batendo a porta.
Esperei ela atravessar a rua e se enfiar no meio de um grupo de meninas antes de ir embora. Carla sabia dar conselhos, e não era por menos que queria fazer psicologia. Era a razão em pessoa. Era uma pena estar sofrendo por um metido idiota importado da França.
Agora teria que bolar um jeito de fazer Lua me perdoar, só não sabia por onde começar…
Bom, teria tempo para pensar naquilo durante o ensaio.

cap 70
Quinta-feira, dia 12 de Novembro, 15:12, casa dos meninos.
Lua:
Que constrangedor. Sério. Havia me esquecido que tínhamos ensaio àquela tarde. Quando Micael me ligou quase caí de costas. Aliás, se não estivesse deitada, provavelmente teria caído.
- Eu preciso mesmo ir? - perguntei, implorando mentalmente para que ele dissesse que não.
- É melhor, Lua. O show é amanhã, precisamos ver se está tudo certo e passar o setlist…
Ele estava certo. Então eu estava ali, encarando meus tênis, enquanto eles passavam as músicas.
Assim que cheguei à casa deles dei de cara com Thur na sala, que abriu a boca para dizer algo, mas então a fechou e só ficou me olhando com cara de idiota. Acenei com a cabeça para ele, no melhor estilo me-desculpe-mas-não-é-você-quem-eu-amo e fui me sentar ao lado de Micael, que estava contando como fora mais cedo com Sophia. Tentei ouvir, mas não consegui absorver as palavras. Teria que pedir para que ele contasse novamente mais tarde, pois não estava em condições de ouvir histórias de amor.
Fiquei um bom tempo viajando nos desenhos do tapete da sala até que Pedro avisou que estava tudo pronto para o ensaio. Caminhei ainda olhando para o chão, tentando ao máximo não cruzar olhares com Arthur. Sabia que se o fizesse não agüentaria e pediria uma explicação. Mas eu não queria ser mais uma vítima. Se eu nunca fora a vítima nas situações, por que dessa vez seria diferente?
Só podia ver da sua cintura para baixo, e também suas mãos. As mesmas que agarraram Pérola mais cedo…
Argh!
Achei estranho ele não querer conversar comigo direito, pois eu havia sido bem vaga mais cedo. Mas, bom, a julgar pelo beijo que dera, acho que ele não estava muito preocupado comigo naquele momento.
Isso fez meu pulso se fechar.
Por que eu me entregara tanto assim a ele? Sério, com o que eu estava na cabeça?
- O que você acha Lua? - Chay perguntou, e eu levantei a cabeça pela primeira vez em muito tempo. – Livre Pra Viver pra abrir?
- Sim. Depois Blackout. Pra fechar… Não sei, Depois da Chuva? - opinei, ignorando Arthur, que estava apoiado na parede de espuma.
- É, pode ser… São quantas músicas mesmo? - Pedro perguntou, anotando em um papel o que estávamos falando.
- Oito músicas, mas sem a galera pedir, estourando nove. - respondi, roendo as unhas. Depois lembrei-me de minha mãe, e de Thur me dizendo que homens reparavam muito em mãos feitas e limpas, e tirei o dedo da boca.
- Beleza, se pedirem a gente pode fazer um cover… Beatles é uma boa, todo mundo curte. - Thur comentou. - Help ou, sei lá, I Wanna Hold Your Hand.
- A gente vê isso depois, vamos fechar o setlist principal agora. - Micael cortou seu barato, querendo ser profissional.
Depois do setlist fechado, eles passaram as próximas duas horas ensaiando. E eu passei às duas horas me segurando para não dar uma só olhadela à Thur. Foi quase impossível, mas quem acredita sempre alcança, e eu senti uma incrível sensação de vitória assim que Chay desligou os amplificadores e pediu arrego.
Os quatro foram fumar, e eu os acompanhei. Peguei meu maço, acendi um cigarro e fiquei observando a pequena névoa que se formava em cima da piscina. Eu já era meio alucinada, e depois do tiro no coração que havia recebido mais cedo, estava mais louca do que o normal.
- Então, Lua, como vamos fazer amanhã? - Pedro perguntou, estalando o dedo na frente do meu rosto.
- O show é às 14h. Já convidei todo mundo no Twitter, facebook, myspace. Tivemos 130 ingressos comprados, mais umas 50 confirmações de compra na hora. Acho que vai chegar a umas 250 pessoas… - quando comentei isso, eles vibraram silenciosamente. - Vocês devem conhecer o lugar, ele é pequeno, com um palquinho no fundo, embaixo das luzes. No dia o restaurante vai fechar, então vai ser só pro show mesmo. O lugar agüenta 400 pessoas, mais do que isso o proprietário falou que não deixa mais entrar. Menos de 16 anos não entra cerveja, vodka, água e refrigerante nos bares. Quando for umas onze horas vou passar aqui com a Van da gravadora, pegar vocês e os instrumentos. Uma hora da tarde o som já deve estar passado. A casa abre 13h30 e você entram às 14h. Às 15h30 outra banda vai tocar então vocês tem uma hora e meia de show.
- Não vai ser uma putaria maluca, né? O pai do Arthur vai vir com a mãe dele… - Micael perguntou receoso.
- Não, tem um mesanino, onde só Vips entram os pais e essas coisas. - respondi, sentindo meu rosto esquentar por pensar que “conheceria” seus pais.
Meu Deus, eu estava agindo como uma completa babaca! Era só um garoto pelo amor de Deus. E eu era uma fria sem coração, por que não conseguia agir normalmente?
- Vai ser demais! - Chay deu um gritinho afeminado.
- Esse é só o começo. Fim de semana que vem vocês tem mais dois shows e no primeiro final de semana de dezembro vocês vão participar de um festival grande só estamos fechando alguns contratos. - comentei, fazendo-os rir como menininhas.
- Lua, você é nosso anjo da guarda! - Pedro exclamou, animado.
- Nós seremos eternamente agradecidos a você. Não é, Arthur? - Micael disse, dando um tapa no ombro dele.
- Sim. Sim. Eternamente. - ele respondeu meio seco.
Ele fazia a bosta e ainda me tratava mal!? Será que ele poderia ser menos imbecil?
- Bom, meninos, preciso ir porque amanhã é correria. Procurem dormir, sei lá, sem nenhuma festinha particular hoje à noite. Amanhã vocês têm a noite inteira pra fazer a after party, não precisa ser hoje. - recomendei, apagando meu cigarro no cinzeiro e me levantando. - Boa noite. Até amanhã.
- Boa noite, Lua! Nós te amamos! - Chay gritou.
- Sim, você é a nossa mascote! - Pedro brincou.
- Até que ela ficaria legal numa fantasia de Phoenix… - Micael comentou.
- Há-ha, vão se foder. - mostrei o dedo do meio, fazendo-os ir.
Abri a porta de correr que dava para a cozinha. Passei pela sala e abri a porta da frente. Quando fui fechá-la, senti que algo impedia. Vir-me-ei e dei de cara com Arthur, ofegante.
Aquilo já estava ficando freqüente.
- Posso pelo menos te dar uma carona? - ele pediu me mostrando as chaves do carro.
- Não precisa, eu vou de ônibus. - respondi seca. Aqueles olhos castanhos que tanto me animavam só estavam me deixando mais nervosa.
- Lua, por favor, eu sei que você só está brava comigo, que essa história de Eric é mentira. Não precisa inventar coisas, a gente pode conversar e resolver isso. - ele disse, segurando uma risadinha no canto da boca.
Imbecil! Idiota! Canalha! Prepotente! Ainda tinha a cara de pau de rir da MINHA cara?
- Arthur, sério, eu preciso ir embora. - me segurei para não fechar a porta em sua mão e me virei, descendo as escadas.
- Lua, por que você não para de besteira e deixa eu me explicar? - ele suplicou.
Bufei. Eu era fria e calculista, mas era um ser humano. Tinha curiosidades e necessidades. E, acredite se quiser sentimentos.
Vir-me, meio contra a vontade da minha consciência, e esperei. Arthur desceu dois degraus, ficando um acima de mim. Apoiou-se na grade da escada e respirou fundo.
- Eu tinha prometido à Pérola que se algum dia me apaixonasse por alguém, lhe daria um beijo de despedida. Eu estava bêbado, e ela ficou enchendo meu saco, então eu acabei prometendo. Já faz uns dois anos isso. E hoje ela veio me cobrar. - ele explicou, com os olhos suplicantes. - Por favor, você precisa acreditar em mim! Fiquei bolando algum jeito de te pedir desculpas hoje no ensaio, mas achei que ser sincero era melhor. Sério, Lua, eu nunca quis te magoar, mesmo. Eu sei da minha fama, sei o que as garotas falam de mim pelo colégio, mas sei também que o que eu sinto por você é diferente, é especial. Eu… - ele pigarreou meio constrangido. - Sei lá, eu… Eu amo você.
Deixei minha boca abrir um pouquinho. Afinal, era muita informação pra uma pessoa só. No começo do dia nós estávamos bem. Na metade ele havia me traído. No final da tarde estávamos nos ignorando e pra fechar com chave de ouro ele dizia que me amava?
WTF, Arthur Aguiar?
Fechei os olhos, tentando organizar as coisas. Mas o “Sei lá eu… Eu amo você” não me saía da cabeça. Como eu poderia ficar brava com alguém que me amava? E que, bom, eu amava de volta?
- Fala alguma coisa? - ele pediu, segurando minha mão.
Olhei para suas mãos. As mesmas que puxaram Pérola pela cintura mais cedo. As mesmas que me proporcionaram os piores segundos da minha vida. As mesmas que já estavam cansadas de agarrar garotas por aí. As mesmas que estavam cansadas de enganar garotinhas inocentes.
Eu não era mais uma garotinha. Não era inocente. E não cairia no seu papo furado.
- Bom, em relação à explicação, eu acredito em você. - respondi, calculando friamente o que poderia dizer para magoá-lo como ele havia me magoado mais cedo. - Mas em relação a você me amar, eu não posso fazer nada. Já te disse hoje de manhã que eu gosto de outra pessoa, e nada que você fizer ou disser vai mudar isso. Eu sinto muito, Arthur, mas eu não correspondo aos seus sentimentos.
Dito isso, soltei minha mão debaixo da sua e observei seus olhos castanhos, antes confiantes, murcharem um pouquinho. Não deixei dizer nada e praticamente saí correndo pela rua como uma doida. Cheguei ao ponto de ônibus bem na hora em que o meu passava. Subi esbaforida, sentei-me e apoiei a testa no vidro.
Agora tinha que dar um jeito de ficar com Eric.
Só assim minha vingança estaria completa.

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