Dei play no DVD e esperei. Depois de alguns segundos na tela preta a imagem apareceu, meio desfocada. Quando finalmente entrou no foco pude ver Lua sentada na cama com o violão nas pernas. Não um violão qualquer, mas um Taylor.
Mimada…
‘Oi, Thur, tudo bom? Então, eu… Eu não sabia como pedir desculpas, então resolvi gravar um vídeo. Acho que essa música diz tudo que eu gostaria de dizer à você, mas não tenho coragem.’
Ela olhou para baixo, o cabelo cobrindo seus ombros nus. Começou a dedilhar o violão. Por mais que eu estivesse puto, vê-la tão indefesa daquele jeito fez meu corpo inteiro esquentar.
When I was younger I saw (Quando eu era mais nova eu vi)
my daddy cry and curse at the wind… (o meu pai chorar e praguejar ao vento…)
He broke his own heart and (Ele partiu seu próprio coração e)
I watched as he tried to re-assemble it… (eu assisti enquanto ele tentava remontá-lo…)
And my mamma swore she would (E minha mãe jurou que jamais)
never let herself forget… (se deixaria esquecer…)
And that was the day that I promised (E aquele foi o dia que eu prometi)
I’d never sing of love, if it does not exist, (Eu nunca cantaria sobre amor, se ele não existisse,)
but darling… (mas querido…)
Ela não olhava para a câmera, concentrada no violão. Sua voz era linda: Calma, firme e muito bem afinada. Só de ouvi-la falar era fácil perceber que ela deveria ter uma voz muito bonita, mas nunca pensei que fosse tão bem treinada.
Senti-me um pouco invasivo. Ela cantava sua própria vida pra mim.
You are the only exception, (Você é a única exceção,)
you are the only exception, (você é a única exceção,)
you are the only exception, (você é a única exceção,)
you are the only exception! (você é a única exceção!)
Eu? Eu era a única exceção?
Olhava fixamente para a tela, observando-a cantar. Seus lábios se moviam de um jeito gracioso, e, aos poucos, toda a raiva que eu estava sentindo, desapareceu.
Ela era um ser humano. Seres humanos erram.
Maybe I know, somewhere, deep in my soul, (Talvez eu saiba, em algum lugar, no fundo da minha alma,)
that love never lasts… (que o amor nunca dura…)
And we’ve got to find other ways (E nós temos que arranjar outros meios de seguir)
to make it alone, or keep a straight face (em frente sozinhos, ou manter a cabeça erguida…)
And I’ve always lived like this! (E eu sempre vivi assim!)
Keeping a comfortable… Distance… (Mantendo uma distância… Confortável…)
And up until now I swored to myself (E até agora eu jurei pra mim mesma)
that I’m content with loneliness, (que eu era feliz com a solidão,)
because none of it was ever worth the risk, (porque nada disso nunca valeu o risco,)
but you are the only exception! (mas você é a única exceção!)
But you are the only exception, (Mas você é a única exceção,)
but you are the only exception, (mas você é a única exceção,)
but you are the only exception… (mas você é a única exceção…)
Ela continuou tocando, alheia à câmera. Era incrível como sua voz parecia transparecer a alma.
Eu podia sentir o que ela estava sentindo…
I’ve got a tight grip on reality, (Eu tenho um forte controle sobre a realidade,)
but I can’t… Let go of what’s front of me here! (mas não posso… Deixar o que está aqui diante de mim!)
I know you’re leaving in the morning, when you wake up, (Eu sei que você vai embora pela manhã, quando acordar,)
leave me with some kind of proof it’s not a dream! (me deixe com alguma prova de que isso não foi um sonho!)
Depois da subida da voz, ela respirou fundo e olhou para a lente pela primeira vez. Seus olhos estavam um pouco vermelhos, não de quem tivesse chorado, mas sim de que estava segurando o choro. Sua voz ficou um pouco embargada, mas em nenhum momentos as lágrimas vieram.
Claro que não viriam. Lua não chorava.
Ela cantou a última parte da música olhando pra mim. Diretamente pra mim.
Eu estava hipnotizado. Como ela fazia aquilo? Qual era seu poder sobre mim?
Havia mentido sobre uma coisa muito séria e só com uma música fazia eu me sentir o cara mais imbecil do mundo por ter brigado com ela. Qual eram os seus poderes? Ou melhor, qual era o meu problema?
You are the only exception, (Você é a única exceção,)
you are the only exception, (você é a única exceção,)
you are the only exception, (você é a única exceção,)
you are the only exception! (você é a única exceção!)
You are the only exception, (Você é a única exceção,)
you are the only exception, (você é a única exceção,)
you are the only exception, (você é a única exceção,)
you are the only exception! (você é a única exceção!)
And I’m on my way to believing… (E eu estou quase acreditando…)
Oh and I’m on my way to believing… (Oh, e eu estou quase acreditando…)
Ela acabou a música e colocou o violão de lado. Levantou o rosto e olhou bem para a lente da câmera.
‘Agora você entende por que é tão difícil pra mim?’
Então a tela da TV ficou preta de novo.
cap 109
Segunda-feira, dia 16 de Novembro, 14:12, hospital.
Girls:
Eu estava na porta da casa dele e o telefone tocou. Nunca, em 17 anos de vida, eu pensei que receberia aquela ligação num momento tão crucial.
Mas essa é a vida, não?
- Alô? - disse, baixinho. Observei Thur procurar por alguém dos dois lados da rua, com o meu pacote nas mãos. Fiquei me sentindo a pessoa mais idiota do mundo, mas aquela era minha última chance.
- Lua? Lua? - meu pai gritou do outro lado.
- Nossa, pai, o que foi? - perguntei, parando de prestar atenção no que estava rolando na porta da casa.
- Lua, Clara entrou em trabalho de parto! Estamos indo para o hospital!
Deixei o celular cair no chão.
cap 110
Segunda-feira, dia 16 de Novembro, 14:22, QG do inimigo.
Thur:
- Lua! Lua! - eu estava quase esmurrando a porta de entrada. Havia tocado a campanhia várias vezes e nada. Estava pensando seriamente em arrombar. - Sr. Blanco? Clara? Alguém?
Depois de todas as minhas tentativas frustradas, sentei-me na calçada de sua casa e disquei o número do seu celular. Caixa postal mais uma vez. Onde, diabos, ela estava?
Liguei para Sophia, que chamou até cair na caixa postal, para Mel que foi direto na caixa postal e para Rayanna, onde uma mensagem de que o aparelho não estava autorizado a receber aquele tipo de ligação estava me irritando profundamente.
Que tipo de ligação? Desesperada?
Os guys estavam em casa e não estavam sabendo de nada. Claro. Era típico deles não saber nada.
Ah, meu Deus, eu estava colocando a culpa até nos meus amigos!
Eu estava enlouquecendo…
- Está procurando a garota que mora aí? - uma voz masculina perguntou ao meu lado.
Virei o rosto para encontrar um cara gordo, que usava óculos e uma regata branca, que desenhava perfeitamente seus seios masculinos.
- Sim! - exclamei, me levantando. - Você sabe onde ela está?
- Ah, sei sim… - o gordinho sorriu. - Ela saiu de mãos dadas com um cara… - ele deu de ombros, acabando com um pedaço de pizza em um pedaço.
Ela… Ela o quê?
- Qual… Quem… Que cara? - consegui pronunciar. Minha cabeça girava.
- Ah… Um cara… Acho que o nome dele era… - ele coçou a nuca.
- Eric? Eric? - perguntei, com a boca mole.
- Isso mesmo! Eric! - ele sorriu, vitorioso. - Ela dizia coisas como “Ai, Eric, eu te amo tanto!”
Olhei para ele. Ele tinha um bigode infantil, a barba por fazer, os olhos meio vesgos e óculos fundo de garrafa. Além de ser gordo e totalmente branquelo.
Não parecia um cara que mentiria com uma coisa séria só para brincar.
Não é?
- Obrigado. - respondi, como um zumbie, indo até meu carro.
Disparei pela rua, não percebendo o sorrisinho diabólico que o gordo lançou para sua pizza.
cap 111
Segunda-feira, dia 16 de Novembro, 14:27, hospital.
Girls:
Ele não havia me respondido. Nem dado sinal de vida.
Maldita hora que esqueci meu celular atrás do arbusto em que observava sua casa.
Meu pai andava de um lado para o outro, afundando o chão da sala de espera. Quando cheguei - com Sophia, Mel e Rayanna - Clara já estava no quarto. Em poucos segundos eu finalmente seria irmã mais velha.
Eu suspeitava que meu pai e Clara já sabiam se era menino ou menina e não queriam me contar. Se minhas suspeitas fossem verdadeiras eu poderia dizer que tinha os pais mais maldosos do universo.
- Pai, pare de andar em círculos, isso não vai fazer você ser pai mais rápido. - virei os olhos, estressada. Onde estava Arthur? Não era agora que ele entrava pelas portas do hospital com um buquê de rosas e me pedia em casamento? Os filmes românticos não eram assim?
Meu pai me ignorou e continuou andando. Olhei para o lado com o cantos dos olhos e observei Sophia, Mel e Rayanna cochicharem.
- É, eu sei que ele não veio. Vocês não precisam cochichar. - murmurei, encostando a cabeça na parede fria.
- Ah, querida, não fique assim. Talvez ele ainda esteja em choque! - Rayanna deu dois tapinhas no meu ombro.
- É! A qualquer momento ele vai entrar por essa porta e dizer que te ama! - Mel sorriu.
- Ele nem sabe que eu estou aqui. - murmurei.
Elas suspiraram. O celular de Sophia estava sem bateria e Mel e Rayanna haviam esquecido os seus em casa com a pressa toda da situação, afinal de contas, elas adoravam Clara. O celular do meu pai estava dentro da bolsa do bebê, dentro do quarto que nós não podíamos mais entrar e os telefones do hospital não faziam ligação para fora. Não tinha mais ninguém na sala de espera além de nós e a enfermeira atrás do balcão não me deixou usar o telefone dela.
Estávamos totalmente incomunicáveis.
- Eu mandei uma mensagem para o Micael antes da bateria acabar, ele deve estar vindo pra cá e vai avisar o Thur! - ela tentou me acalmar.
Mas lá no fundo eu sentia que ele não estava nem aí. Que acabar tudo era o melhor. Que eu não o merecia mesmo.
Suspirei. Vida cruel…
Adorei a Web parabéns! Linda será que na próxima Web a Roberta poderia ficar grávida? Bjos By Rafa
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